sexta-feira, 16 de julho de 2010

Ambrizete 16-07-1968

Queridos Pais:

Cá recebi a vossa carta que agradeço, por cá tudo decorre normalmente, a saúde é boa e não tenho problemas, estamos quase na colheita do café e já se queima capim.
Agora cá o tempo está frio, estamos na época do cacimbo, já se tem de dormir com manta, à noite faz 18 graus mas com muita humidade.
É pena o Pinto Nunes ir para a Guiné, o único sitio razoável é "Bissau", o resto é pior do que o inferno, à aqui rapazes que tem lá amigos que dizem que lá passam fome.
Eu quando cheguei a Angola, andava um dia a passear em "Luanda" e ao passar no Hospital Militar, vi lá o Alheira no jardim, estava lá internado, depois vim para cá e perdi-me dele e agora está aí.
Quanto ao que pedi, mande-me duas toalhas, se poder mandar pelo Milheiro mande, se não por intermédio da Cruz Vermelha demora 3 a 4 meses mas é de graça.
Quanto á nossa saída de "Ambrizete" ainda não veio cá ninguém para nos render, vamos a ver, cá não ficámos.
Eu sei que tenho direito a licença, mas ainda não me deu para meter o requerimento, pois de férias estou eu sempre, se estivesse numa Companhia Operacional estava bem, assim faço uma coluna a "Bessa" vou à 4ª feira só regressámos na 2ª feira, estamos lá só a comer e a dormir, chego a "Ambrizete" é a mesma coisa, não vale a pena, não pense que a minha vida em Angola tem sido de trabalhos, tenho passado uns maus bocados, mas também descansámos muito.
Quanto ao marisco é aquela máquina, cá uma lagosta custa 30,00 escudos grande, camarão é a 10,00 escudos um prato grande, já comi lagosta de todas as maneiras e feitios, churrasco, bifes de pacassa de palanca, donde gasto o dinheiro é nisto, junto remeto uma das contas que paguei em "Ambrizete" só num bar, nós cá só pagamos ao fim do mês, é assim que se gasta o dinheiro.
Por hoje é tudo, recebam saudades do

Mário

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