Meus queridos Pais:
Espero que ao receberem esta minha carta se encontrem de óptima saúde, que eu como sempre encontro-me em forma.
Hoje mesmo ao chegar de "Bessa Monteiro" tive a desagradável surpresa de encontrar os homens que nos vem substituir, a vossa próxima carta já me deve encontrar em Luanda, a "dolce-vita" em "Ambrizete" está a acabar, vou voltar a encontrar-me com a disciplina militar e segundo nos dizem em Luanda cada vez está pior, nos restantes 17 meses que me faltam vão parecer um século, agora mais do que nunca desejo que a tropa acabe.
As coisas que pedi é melhor o Milheiro entregar em Luanda, no "Grafanil" na Companhia Transportes 2346, dê-lhe o meu nome e numero.
Quanto ao Pinto Nunes é pena ir para a Guiné, a única coisa que se aproveita e mal é Bissau, quanto à especialidade de analista no Ultramar não conta, à um em Bessa que o puseram a contineiro, cá bebe-se tudo não é preciso analisar.
Por hoje é tudo, pois como deve compreender a vontade de escrever de momento é pouca
Recebam saudades do
Mário
A minha opinião vale o que vale, correndo o risco de neste caso nem valer nada!
ResponderEliminarE porque por lá andei também - e no duro -, acho muito estranho o conteúdo da correspondência enviada para a familia. Corrija-me se eu estiver errado: então um militar que enfrenta todas adversidades comenta-as aos pais?! A propósito de quê? Então não sabiamos todos da aflição em que ficava mergulhada a familia, principalmente os pais?! Será que nunca passou pela cabeça de quem escrevia as missivas, a preocupação que as mesmas iam multiplicar?! Um militar com mente devidamente preparada, tinha a obrigação de omitir as dificuldades do dia-a-dia, especialmente aos pais. E isto por todas as razões do mundo, que não vou, óbviamente, enumerar mas que não é difícil de entender. Eu sei que não fui convidado a opinar mas não deixo de estranhar que se tenham narrado factos e preocupações a quem já as teria, e de sobra!
Carlos Oliveira, ex-militar por terras de Angola
Por muito estranho que julgue, esta é verdadeira e real. Estou a publicar as cartas, no fundo como se fosse uma homenagem aos meus falecidos Pais, que aguentaram estóicamente e sem nunca dar a perceber a nós irmãos mais novos, e que não entendiamos o "porque" de deixarmos de ver o nosso irmão mais velho. Respeito todos vós que sofreram por essas terras longinquas, até porque também fui militar mas num tempo pós 25 de Abril (Set. 1984) e tenho por todos os ex-combatentes uma admiração sem limites.
ResponderEliminarMas cada pessoa reage de maneira diferente e as cartas talvez fossem uma forma de superar as dificuldades por que passou.
E obrigado pelo seu comentário, volte sempre que desejar.
Um forte Abraço
Henrique Soares
ex-militar
Operador TTY - Reg. Transmissões Lisboa (Graça)
3º Turno Setembro 1984